Como todo mundo, tenho cá os meus percalços, minhas dificuldades, meus problemas, meus desenganos, entre outros inúmeros momentos desagradáveis. Tudo isso, porém, é largamente superado pelo prazer e pelas alegrias da vida. Estar vivo é ótimo. Embora seja um perigo permanente.

Já comecei a contar os meus dias como “menos um”. Não tenho dúvidas que já cumpri minha missão na Terra – transmitir meus genes. Segundo alguns biólogos, para isso nascemos, elo de uma cadeia milenar e que se estenderá por outros tantos milênios, até o fim dos tempos.

Essa estória de vida pós-morte, para mim, é conversa. Se houver, será uma grande e agradável surpresa. Escutei o Dalai Lama dizer, numa entrevista sobre reencarnação, quando perguntado se acreditava em vida depois da morte: Claro, é o fundamento de minha religião. E se não existir, voltou o interlocutor: Nenhum problema, já morri. Para mim, é o contrário. Surpresa é se houver.

Já estou no caminho dos 90. Não sei, ninguém sabe, até quantos vai chegar. Mas, não faz mal se cuidar. Li que o fundador do “Old Parr” viveu até 163 anos. Passei a tomar “Old Parr” como remédio – uma dose antes do almoço, outra dose antes do jantar. Não me iludo; pode ser propaganda do produtor. Mas, que faz um bem danado, faz.

Há um senão. Não quero ficar vegetal, pendurado numa maquinaria infernal, inconsciente, sem perspectivas, deitado eternamente em berço esplêndido, como o Brasil, sem saber de nada. Com o Brasil é pior, pois é explorado. Eu não sou. Mas, mesmo assim, aproveitando uma decisão inteligente do Conselho de Medicina, já disse aos meus filhos, e o fiz por escrito, desliguem a parafernália. E me deixem partir. Mas, não tenho pressa. A pressa é inimiga da perfeição.

Enquanto estamos por aqui, sigamos os ensinamentos do Deus visto por Espinosa, em 1685. Entre outros conselhos Dele, este sobre-sai:

“Pára de ficar rezando e batendo no peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cante, te divirtas e que desfrutes de tudo que Eu fiz para ti. Pára de ir a esses templos lúgubres e frios que você mesmo construiu e que acredita ser minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e expresso meu amor por ti”.

Dalton Mello de Andrade – Ex- Secretário Estadual de Educação e ex- Pro-Reitor da UFRN

Ponto de Vista

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