Carlos Alberto Josuá Costa
No ‘Maturi Restaurante’, ali na Rua São José, em Lagoa Nova – excelente cardápio – dos amigos Celso e Isabel, macauenses de valor, não dispenso um cafezinho com adoçante. Peguei um envelope da marca MAGRO, olhei-o atentamente e ao som imaginário da dança do ventre, adocei o expresso.
Entre um gole e outro, passei a vista nos presentes e verifiquei se realmente eu era magro. Teria sido aquele adoçante um recado de Da. Isabel, para que eu aumentasse a quantidade de comida e ela faturasse mais? Não acredito. Ela é uma mulher de fibra e de visão voltada para o bom atendimento. Mas esse fato me levou ao passado, quando eu era “fino”. Aliás, não existia o tal do bulling e, subtítulos como: vara de tirar côco, espeto de virar tripa, canudo de guaraná, espirro de bode, meio-fio, eram comuns e engraçados, desde que você não se importasse.
Pois bem, vamos aos fatos presumidamente “verdadeiros” que realçam a minha esbelteza.
Para ser compreendido, esclareço que ser magro era uma miséria. Diziam logo que o menino tinha “lombriga” e que comer caroço de mamão botava as bichinhas para fora – quanta malvadeza!
Éramos cinco irmãos, três homens e duas mulheres. Mas, magro, só eu!
Na hora do banho de “cuia”, uma só, era suficiente para meu asseio. Os outros tinham direito a quatro ou cinco.
Quando chovia era uma festa: água à vontade. Corríamos para a chuva e mamãe com especial atenção, gritava comigo: “Deita… Deita…” Não precisa dizer que em pé não me molharia.
Certa vez fomos para uma pousada e o chuveiro de metal era o chique da época. Lá fui eu tomar banho, feliz da vida. Abri o chuveiro:- Ôxente, que danado é isso? Os jatos de água eram espalhados demais e eu em baixo não me molhava. Era magro, mas era inteligente: comecei a dar voltas como num pequeno círculo e agraciado com tanta água. Fiquei tonto, mas me esbaldei.
Lá em casa todos tinham guarda-chuva, exceto eu. Quando ia para o colégio e chovia, meu irmão Nilson dizia: “Vá andando debaixo do fio de alta tensão que você não se molha”.
Numa das férias, mamãe me levou ao médico e ao me pesar tivemos uma surpresa: Havia engordado 20 gramas desde a última consulta. Mas o médico meio desconfiado: “Vamos pesquisar!” Depois de alguns dias ligou para informar: “Foi no tutano do osso”. Ufa! Que susto! Pensei que ia perder meu “guarda-roupa” todinho
Fui assistir ao filme “O Colecionador de Ossos”, policial suspense, dos bons, com Denzel Washington e Angelina Jolie, e ao chegar a hora de entrar, eis que o bilheteiro olha para mim e diz: “Você não paga. Você faz parte da coleção”.
Tem essas vantagens!
Quando jogava futebol de salão pelo juvenil do Santa Cruz, do saudoso Euclides Lira, na hora de ficar na barreira, o goleiro dizia: “Sai, sai, não adianta nada você aí”.
No meu aniversário fui comprar um pijama novo: Tem pijama listrado? O vendedor com toda a sinceridade olhou pra mim, e disse: “Só temos com várias listras”. Não serve. Vão sobrar listas.
Quando casar engorda! Era minha esperança. Mas, até agora, nada!
Hoje tá na moda. É todo mundo “andando”, “correndo”, “saltitando”, comendo “alpiste”, frequentando academia, cuidando do corpo e da saúde.
“Como você se mantém tão esbelto”? Segredo! Não digo pra ninguém.
Tenho um grande amigo que resolveu fazer redução de estômago, e antes da consulta ligou para mim: “Ei Josa, mande uma foto sua para eu mostrar ao médico como quero ficar”! – Você é doido home, quer ficar feio igual a mim? “Não amigo, não é cirurgia plástica, é apenas para o médico ter uma ideia”. Já pensou, eu servindo de modelo? É o fim do mundo!
Deu certo! É tanto que após sua recuperação, fui levar para ele num “saquinho plástico de dim dim”, alguns caroços de feijão, de arroz, um “dedal” de farinha e duas passas: “Taqui” Da. Maria José, a feira de Elan Ferreira de Miranda.
Danado é que minha caixa postal de email vive cheia de “promessas”: ‘Emagreça 11 Kg em uma semana’. ‘Perca peso agora mesmo’. ‘Uma semana no SPA deixa você pronto para o verão’ – Já pensou quanta afronta.
Acostumei-me com meu “calibre” e sigo a vida com moderação.
Não faço dieta. Porém escolho bem o que comer: frutas, verduras, fibras, iogurtes, castanhas, amêndoas, nozes, linhaça, aveia em flocos, peixes, frutos do mar, além do trivial – feijão com arroz, carne, água, sucos e um chopinho de vez em quando. Evito gorduras e frituras, mas não dispenso a codorna na brasa de Lena, ali em Potilândia.
Sim, o segredo principal: comer apenas o necessário para alimentar seu corpo e não para saciar seu desejo. A gula mata!
Não desperdice alimentos. Lembre-se de tantos outros que ainda não sabem o que, e quando vão comer.
Vinho tinto seco, e um bom “papo” com alguns dos amigos também contribui para manter a forma. Que forma? Essa aqui ói, num tá vendo não? Deixe-me ficar de frente. Melhorou?
Já ia esquecendo: amar faz um bem danado para o corpo e para a alma.
A propósito, andando pela cidade alta, vi um sujeito na parada metropolitana e disse pra mim: ô “cabra” magro d’uma zorra!
Carlos Alberto Josuá Costa – Escritor, Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])