VONTADE DE ESCREVER –

Para o escritor profissional, uma ideia tem que surgir a cada momento, para que possa preencher o seu espaço reservado em seus periódicos. E tem que ser algo interessante, pois pode perder o emprego, se não for lido e comentado.

Para os bissextos, como eu, para quem escrever é um simples passatempo, uma forma de dar vazão as suas imagens e pensamento, há a vantagem enorme de não ter a obrigação. Com uma adicional. Se escrever algo interessante, muitos vão ler e comentar. Se for uma besteira, ninguém toma conhecimento e fico tudo por isso mesmo. O cara escreveu, encheu o seu tempo, ocupou um espaço sempre disponível nas redes sociais e blogs, e não chateou vivalma, pois o lê quem quer.

E os assuntos surgem das maneiras mais impressionantes! Hoje, por exemplo, me surgiu no café da manhã, que os mais sofisticados chamam de “breakfast”. Gosto sempre de comer uma fruta, seja qual for. Medo de engordar. Comi abacate (engorda, mas ninguém é de ferro). Já veio para a mesa passado no liquidificador, macio, gostoso, quase um suco. E isso lembrou-me do “tempo de antigamente”.

Era uma novela. Para encontrar um abacate, tinha-se que ir ao mercado, ou a feira, andava para lá e para cá, até que encontrasse um que lhe servisse (e, às vezes, estava estragado). Para prepará-lo, tinha que cortar em pedaço, pedacinhos, e depois esmagá-los com um garfo. Mas sempre ficavam meio empedrados. Para misturar o leite com o açúcar era outra novela. Os pedaços ficavam sempre grandes e a única forma de esmagá-los mesmo era mastigando. E não tinham o mesmo gosto de hoje. Hoje, uma facilidade. Quase se pode bebê-lo. E, se botar mais leite, pode.

Esse mesmo argumento vai para tudo na vida. Muitos gostam de dizer, esse país não tem salvação. Escuto isso desde menino. E, se você para, pensa e olha em volta, vê que tudo melhorou, e muito. A vida, que sempre é cheia de complicações, ficou muito mais fácil.

No meu tempo do Atheneu, para não falar no primário, o transporte era difícil, caro, e ainda lhe deixava longe da escola. E demorava! Quantas vezes não fui a pé, caminhando pela rua Assú, sem calçamento, para chegar na hora certa. Usualmente, sete da manhã e eu saía de casa às seis! Tempo de guerra, nós tínhamos, toda a semana, um curso de “Instrução Pré-militar”. Cinco e meia. Haja sofrimento. Ainda me lembro; o professor era um sargento que se chamava Dário, tinha um pêra, e era brabo, como dizem ser todos os bons sargentos. Além do “ordinário, marche”, aprendi a desmontar e montar um fuzil da I Guerra Mundial. Mas, acho agora, era divertido. Naquele tempo, um pesadelo semanal. Depois de um certo tempo, meu pai comprou um carro e aí foi um luxo!

E a melhora foi generalizada. Para onde você olha, vê o progresso. Em qualquer sentido. Do telefone ao avião. Até a politica melhorou. Você passou até a saber em quem vota! Se vota mal, é problema seu. Mas, antes, com o voto “secreto”, ele era tão “secreto” que nem o eleitor sabía em quem votava. E, se fosse enxerido e quisesse saber vinha a resposta: deixa de pergunta besta, você não sabe que o voto é secreto?

Portanto, não me queixo da vida. Claro, como todos nós, tive momentos difíceis, desagradáveis e sofridos. Mas, também como todos nós, momentos alegres e agradáveis, bons de lembrar, que é o que tento fazer escrevendo essas aparentes bobagens. Se alguém acha, tudo bem. Eu não acho.

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

 

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