VOTE EM MIM –
Ser político não é profissão. É encargo. Encargo passageiro de quem se compromete a servir ao próximo; quem deseja representar a vontade popular; quem se dispõe a colaborar para melhorar a vida e os destinos do seu país. Segundo o Glossário Eleitoral, cargo eletivo é aquele ocupado por titular escolhido direta ou indiretamente pelo eleitorado para exercer funções político-constitucionais.
Ciente de tudo isso resolvi me candidatar para concorrer a um cargo nas próximas eleições do país. Embora aposentado das atividades que exercia e satisfeito com o legado de trabalho que deixei, não desejo me acomodar e ver a vida passar ao largo.
Ainda posso ser útil, haja vista possuir preservadas as minhas faculdades mentais, aliadas à vontade de continuar produzindo algo em benefício da coletividade. Daí o meu desejo de concorrer a uma vaga no Legislativo. Isso mesmo, escolhi tentar me eleger Deputado Federal.
Farei uma campanha diferenciada. Não prometerei absolutamente nada para não ser cobrado no futuro e tachado de mentiroso. Será uma campanha limpa, direta e objetiva. Apenas o meu rosto sisudo, a minha identificação numérica e o cargo ao qual concorro. Nada de perder tempo com subterfúgios.
Na Câmara dos Deputados não quero exposição, não farei discursos nem apartes, apenas votarei nas proposituras que considerar isentas de apelações e discussões. Não me tocará ser considerado membro do baixo clero ou deputado sem qualquer expressão. Assim não serei lembrado nem cobrado de nada, pois nada prometi.
Sei perfeitamente o que meus eleitores comentarão: “Afinal, o que esse indivíduo está fazendo na Câmara?” ou “Ele é um zero à esquerda no Congresso Nacional!”. Nada disso me afetará, porque lá existem outros tantos que se portam assim como eu pretendo imitar.
Existem especulações específicas acerca dos honorários dos deputados federais. Falam bastante nos salários e nos penduricalhos a eles atrelados, bem como das vantagens extensivas aos seus familiares e afins.
Alardeiam o fato de possuírem planos de saúde diferenciados, enquanto as comunidades que representam na Câmara Baixa ficam atreladas ao Sistema Único de Saúde-SUS, algo que eles não se arriscam recorrer em hipótese alguma.
Não falei ainda na aposentadoria proporcional, algo diferenciado da oferecida aos demais trabalhadores brasileiros. Bastaria apenas um mandato e eis-me aposentado dentro do protocolo da proporcionalidade.
Ah! Nos últimos anos criaram um tal de Orçamento Secreto. Ainda não me inteirei de sua finalidade, mas, parece-me ser uma boa quantia da qual disporá o deputado para aplicar onde ele bem entender no seu estado sem prestar contas a nada nem ninguém.
Ser político não é profissão, concordo. Mas, sendo encargo, para que tantas benesses sem lhe cobrar nada em contrapartida, algo específico e obrigatório, enquanto dispuser do mandato? Diante das regalias dizem que lá é o Paraíso na Terra.
Nada questionarei do dito acima, quando investido da nobre função. Tenho a consciência limpa. Lembre-se que na minha campanha nada falei, pedi ou me comprometi a fazer. Você, caro eleitor, votou em mim porque quis e, se falhou na escolha, saiba que errar é humano. Portanto, deixemos de chorumelas e não me culpe!
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil