ZÉ GALO –
Transcorria o mês de junho de 1958. Como acontecia todos os anos eu e meus irmãos, Elmano e Severino, passávamos as férias escolares na cidade de São Rafael, localizada na região do Vale do Açú, no Rio Grande do Norte.
Predominava, no estado e no Brasil, o meio de transporte ferroviário. Aqui, a rede férrea denominava-se Estrada de Ferro Sampaio Correia. Nosso pai nos deixava na estação ferroviária central de Natal, situada na Praça Augusto Severo, para encetarmos a viagem, confiados aos cuidados de Horácio, um funcionário da rede.
Eu, um moleque de 14 anos de idade, ainda usava calças curtas. Em São Rafael, a minha “patota” acompanhava, entusiasmada, a Copa do Mundo, na Suécia, nas poucas residências onde existiam rádios alimentados por baterias. Sintonizar as estações que retransmitiam os jogos consistia numa dificuldade fenomenal.
Uma vez localizada a estação procurada, outro problema se apresentava: a estática interferindo a todo instante nas ondas sonoras, provocando um chiado irritante que dificultava a compreensão da narrativa do locutor esportivo.
O Brasil havia passado, na 1ª fase da competição, pela União Soviética, em 15 de junho, por 2 x 0; nas quartas de final, em 19 de junho, venceu o País de Gales, por 1 x 0; e, em 24 do mesmo mês, na fase semifinal, foi a vez de derrotar a França por 5 x 2. Havíamos chegado à final.
Vivíamos a época conhecida como “Anos Dourados”. O então presidente da República, Juscelino Kubitschek, empossado há dois anos e amparado na meta de “Cinquenta Anos em Cinco” promovia a construção da nova capital federal. Os ventos favoráveis que sopravam na economia e na cultura resolveram soprar também no esporte.
A nação inteira estava focada na partida daquele domingo, dia 29 de junho. O estádio Rasunda, na cidade de Solna, estava lotado. Existia uma diferença no fuso horário, entre Suécia e Brasil, de quatro horas. Lá, o relógio marcava 15h, em São Rafael, 11 horas. Acompanhávamos o jogo postados na janela da casa de um citadino, que aumentara o som do rádio para nos deixar ouvir a transmissão da final da Copa de 1958.
Aos 4 minutos do primeiro tempo, os suecos saíram na frente com um gol de Nils Liedholm. Quanta decepção! Porém Didi, o príncipe etíope, apanhou a bola no fundo das redes do Brasil e seguiu, caminhando com ela debaixo do braço, para o centro do gramado. Então o inimaginável aconteceu.
Ainda no primeiro tempo, Vavá, marca dois gols: um aos 9 e outro aos 32 minutos. Na segunda etapa do jogo, Pelé marca um dos gols mais bonitos da história do futebol. Em seguida, aos 23 minutos, um jogador aumentou o placar, marcando o quarto gol do Brasil. A “patota” angustiada perguntava uns aos outros: “De quem foi o gol… De quem foi o gol?” E nenhuma resposta.
Coube ao garoto chamado, Chico de Toinha, salvar a pátria, dizendo: “Acho que o gol foi de um tal Zé Galo!” O gol marcado por Zé Galo, segundo Chico de Toinha foi, nada mais nada menos, do extraordinário Mário Jorge Lobo Zagallo.
Esta é a minha homenagem a um dos maiores símbolos do futebol do Brasil, o grande vencedor, dentro e fora de campo, detentor do recorde de títulos das Copas do Mundo FIFA em geral. O Velho Lobo morreu no Rio de Janeiro, aos 92 anos, na última sexta-feira, dia 5 de janeiro deste 2024. Fica na nossa memória a sua célebre frase: “Não preciso dizer mais nada. Vocês vão ter que me engolir!”
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro Civil